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Crioulas do Quilombo

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Biografia Crioulas do Quilombo 

Entrevista por Keila Serruya Sankofa

Texto Jéssica Dandara 

Fonte Keila Maria da Silva Fonseca

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“Eu tenho muito orgulho das mulheres da minha família, por terem sido resistentes a todas as violências do racismo. Foram escravizadas, lavadeiras, passadeiras, mães de leite, empregadas domésticas, mas se mantiveram vivas e dignas, eu estou por elas também”

(Keilah Fonseca)


 

As famílias do Quilombo São Benedito, localizado no bairro Praça 14, e por isso mais conhecido como Quilombo da Praça 14, tem uma tradição africana de sobreviver da culinária, e, em 2014 o quilombo foi certificado pela Fundação Palmares, no Ministério Público Federal como o Segundo Quilombo Urbano do Brasil. 

 

No quilombo existe um grupo organizado de mulheres chamado Crioulas do Quilombo, que atuam preservando a memória, cultura, politizando e lutando contra o racismo, desde 2014, e foram regularizadas apenas em 2018, conseguindo se transformarem em empresa com CNPJ com apoio comunitário, sem financiamento de órgãos públicos ou particulares. 

 

Uma das coordenadoras das Crioulas do Quilombo é Keilah Fonseca da Silva Fonseca, nascida em 1973, filha de Creusa da Silva Fonseca e Milton Rodrigues Fonseca, iniciou no ativismo de organizações coletivas em 2006, na Amonam Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas, e desde o início da militância de Nestor Nascimento, o fundador do primeiro coletivo organizado do movimento negro no Amazonas, ainda não há políticas efetivas voltadas à quilombolas.

Durante a pandemia do novo Covid 19, em 2020,  houveram 4 óbitos. Mesmo sem o apoio do governo, as Crioulas do Quilombo da Praça 14 procuraram formas de ajudar seus irmãos quilombolas que são ribeirinhos e que vivem em comunidades rurais, e estão morrendo, não apenas de Covid-19, mas também de fome, devido ao aumento de desigualdade social na pandemia. Elas, então, reuniram esforços para conseguir máscaras, álcool em gel e cestas básicas aos que precisavam, além de tecido e elásticos para que eles mesmos possam confeccionar as máscaras em suas máquinas de costura.

 

A comunidade que mora próximo ao Quilombo da Praça 14 também é aquilombada, pois as Crioulas do Quilombo estão sempre contribuindo para atender às necessidades das pessoas que as procuram. Elas se mantém através do artesanato e da culinária, e todo o recurso que entra é direcionado à contadora para manter o CNPJ e concorrerem à editais para continuarem mantendo o projeto político de resistência que é o legado do Quilombo do São Benedito.

 

Outra forma de preservação de tradição no quilombo é preservar o espaço, e não vender que casas que ali se aquilombam. O espaço onde são feitos os artesanatos e as mostras artesanais é Espaço Cultural Maria Fonseca de Lourdes - Tia Lurdinha, que foi uma mais velha do quilombo que inspirou gerações, ficou durante 50 anos à frente dos festejos da comunidade, e o nome do estande das Crioulas do Quilombo é em sua homenagem por ter sido uma mulher guerreira, de luta e ter feito grandes coisas também com muito afeto.

 

“E o nome de São Benedito foi escolhido porque é ele que nos abriga, quem nos dá alicerce nas nossas aflições” 

 

A culinária é marcante no dia da Consciência Negra “A feijoada do dia 20 não vem só pra matar a tua fome, ela vem pra te fazer lembrar do passado e dá de comer a quem não tem o que comer naquele dia (...) E também porque São Benedito é um santo cozinheiro, e os negros agregarem esse valor, eu posso falar que é uma regalia, é muito caro, então você doar é muito significativo pra gente” 

A comunidade do Quilombo de São Benedito é formado majoritariamente por mulheres.

 

“Por muitos anos, as nossas mulheres pariram filhos sem pai. Porque a neguinha é pro coito, não é pra casar. Com as brancas tu casa, e com as neguinhas tu curte”

 

As mulheres do quilombo tem uma trajetória de luta e resistência, em meio à todas as dificuldades impostas pelo racismo estrutural.

“Eu tenho muito orgulho das mulheres da minha família, por terem sido resistentes a todas as violências do racismo. Foram escravizadas, lavadeiras, passadeiras, mães de leite, empregadas domésticas, mas se mantiveram vivas e dignas, eu estou por elas também”

 

A família de Keilah Fonseca se formou como quilombo na Praça 14 a partir de 1984, isso através da chegada da Dona Severa Fonseca, avó dos avós de Keilah Fonseca, que  foi a primeira ancestral de sua família a chegar nesse lugar. Todo o trabalho de preservação de memória na comunidade se desdobrou em um livro escrito por Keilah, intitulado “De vovó Severa à Keilah Fonseca”.

 

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